Em 1893 Rosa Luxemburg tornou-se co-fundadora da Social-Democracia do Reino da Polônia (SDKP) que, em 1900, foi rebatizada de Social-Democracia do Reino da Polônia e Lituânia (SDKPiL). Em agosto de 1893 – com apenas 22 anos de idade – apareceu pela primeira vez no movimento internacional dos trabalhadores no III Congresso Internacional de Trabalhadores Socialistas em Zurique, onde lutou, por meio de um discurso corajoso, por um mandato para si mesma e seu jovem partido que, entretanto, lhe foi recusado naquele momento.
Em 1898, Rosa Luxemburg instalou-se na Alemanha. Um casamento branco deu-lhe a cidadania alemã. A partir daí ela lutou pela social-democracia alemã em congressos do partido, congressos internacionais e em artigos e livros. No Congresso da Internacional Socialista de 1900 justificou a necessidade de ações internacionais contra o imperialismo, o militarismo e as políticas coloniais.
De 1904 a 1914 representou o SDKPiL no Bureau Internacional Socialista (ISB). Do final de dezembro de 1905 a março de 1906 participou da revolução na Polônia ocupada pelos russos, tendo sido presa e libertada sob fiança em junho de 1906. Em Berlim, tirou conseqüências das experiências da revolução russa de 1905-1907 para a classe operária alemã, defendeu a greve política de massas como um instrumento de luta revolucionária e tornou-se conhecida como líder da tendência de esquerda na social-democracia alemã.
Em 1907, no Congresso da Internacional Socialista, desenvolveu com Lenin e Martov um programa de oposição à guerra do movimento internacional dos trabalhadores. De 1907 a 1914 trabalhou como conferencista na escola do Partido Social-Democrata em Berlim. Durante vários anos manteve uma relação amorosa com Kostia Zetkin, filho de sua camarada e amiga Clara Zetkin.
Em fevereiro de 1914, condenada à prisão pelos discursos contra a guerra, teve Paul Levi como advogado de defesa – e este tornou-se seu novo amor. Em 1915, sob o pseudônimo de “Junius”, escreveu um texto contra a Primeira Guerra Mundial, que havia começado em 1º de agosto de 1914 – o famoso “Panfleto de Junius”. No final de 1915 fundou, junto com Karl Liebknecht e outros oponentes à guerra dentro da social-democracia, o grupo “Internacional”, do qual nasceu o grupo Spartacus em 1916.
De julho de 1916 a novembro de 1918, Rosa Luxemburg ficou presa em Berlim, Wronke e Breslau. Em 1917 apoiou com artigos escritos na prisão as revoluções de fevereiro e outubro na Rússia. Recebendo com alegria a revolução, alertou ao mesmo tempo contra uma ditadura bolchevique. Apenas em 1922 o artigo “Sobre a revolução russa” contendo este aviso veio a público. “Sem eleições gerais, sem liberdade ilimitada de imprensa e de reunião, sem livre enfrentamento de opiniões” – diz ali – “a vida morre em qualquer instituição pública, torna-se uma vida aparente...”
Libertada em 9 de novembro de 1918, ela envolveu-se com toda a sua energia na revolução de novembro. Junto com Karl Liebknecht publicou o jornal “Bandeira Vermelha”, trabalhou para um levante social amplo e, na virada de 1918/1919, estava entre os fundadores do Partido Comunista Alemão (KPD).
Em 15 de janeiro de 1919 Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht foram assassinados em Berlim por oficiais e soldados das unidades militares contra-revolucionárias.
SOCIALISMO DEMOCRÁTICO
Para Rosa Luxemburg a política tradicional na era burguesa era assunto de políticos profissionais, que agiam em nome apenas dos interesses de uma parte da sociedade, e procuravam conquistar e garantir privilégios culturais, sociais e econômicos para seus seguidores. Sob o ponto de vista de Rosa Luxemburg, tanto o SPD alemão, orientado para as reformas parlamentares, quanto o bolchevismo russo, com sua orientação revolucionário-ditatorial ainda se conservavam dentro da tradição política burguesa: ambos se viam menos como parte dos desprivilegiados e mais como seus representantes.
Em contrapartida, para Rosa Luxemburg o socialismo não era um serviço a ser prestado aos outros, ou menos ainda um presente oferecido por uma parte da sociedade aos oprimidos e explorados. A política socialista e o socialismo deveriam emergir de um movimento comum, voluntário e consciente de todos os desprivilegiados. Este movimento era “o primeiro na história das sociedades de classes que em todos os seus momentos, durante todo o seu desenvolvimento, confia na organização e na ação direta e autônoma das massas”, escreveu ela em 1904. Os políticos profissionais e os partidos, de acordo com ela, deveriam apenas funcionar como partes desse movimento, cabendo-lhes a organização e a educação política das massas.
A crescente agressividade do militarismo alemão, bem como as guerras pela re-divisão do mundo, e particularmente a 1ª Guerra Mundial de 1914 deram um relevo especial à questão da paz. Rosa Luxemburg considerava a sociedade socialista pela qual lutava como profundamente pacífica. Ela imaginava essa sociedade como uma forma de vida humana em comunidade, onde todas as causas da guerra e da barbárie deveriam ser eliminadas. E não menos importante, seu profundo desejo de paz fez com que Rosa Luxemburg defendesse o socialismo com toda a paixão.
Rosa Luxemburg não pretendia atacar os membros individuais das classes exploradoras e opressoras por meio da força física: “A revolução proletária não precisa do terror para realizar seus fins, ela odeia e abomina o assassinato. Ela não precisa desses meios de luta porque não combate indivíduos, mas instituições; porque não entra na arena cheia de ilusões ingênuas que, perdidas, levariam a uma vingança sangrenta. Não é a tentativa desesperada de uma minoria de moldar o mundo à força, de acordo com o seu ideal, mas a ação da grande massa dos milhões de homens do povo...”
Ela entendia “revolução social” como Marx, como a abolição de todas as relações em que “o homem é um ser humilhado, subjugado, abandonado e desprezível”. Esta revolução social que ela queria alcançar através de um luta constante pela hegemonia deveria ajudar a mudar de forma duradoura a correlação de forças dentro da sociedade. Desta forma buscava atingir não apenas a expropriação dos expropriadores, mas tornar o solo da sociedade infértil para a exploração e a opressão de forma duradoura.
Rosa Luxemburg entendia a luta pela hegemonia como uma luta permanente pela aprovação e o apoio das maiorias qualificadas. Não somente por isso, a liberdade e a democracia não eram para ela um luxo que os políticos socialistas podiam doar ou recusar a seu bel-prazer, mas a condição para a existência da política socialista. “Liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros de um partido – por mais numerosos que sejam – não é liberdade. Liberdade é sempre a liberdade daquele que pensa de modo diferente. Não por fanatismo pela ‘justiça’, mas porque tudo quanto há de vivificante, salutar, purificante na liberdade política depende desse caráter essencial e deixa de ser eficaz quando a ‘liberdade’ se torna um privilégio”.